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52,9% das pessoas com HIV no Brasil já sofreram discriminação, diz pesquisa

No Brasil, 52,9% das pessoas que vivem com HIV já sofreram algum tipo de discriminação por conta da condição sorológica. É o que revela pesquisa conduzida pela UNAIDS Brasil, e divulgada nesta quinta-feira (8), em Brasília.

A principal experiência de discriminação vivenciada pelas pessoas participantes foi de comentários discriminatórios e fofocas entre pessoas, tanto dentro de seu círculo familiar (34,8%) quanto fora deste (38,8%). Além disso, 22,3% das pessoas que participaram da pesquisa foram excluídas de atividades de pelo menos um dos espaços que ocupavam (atividades sociais, familiares e/ou religiosas).

No único levantamento anterior realizado no Brasil, divulgado em 2019, 64,1% dos participantes afirmaram já ter sofrido alguma forma de discriminação.

Apesar de alguns avanços registrados na pesquisa atual, o relatório lançado hoje afirma que o estigma e a discriminação seguem como grandes barreiras no cotidiano das pessoas vivendo com HIV no Brasil. O estudo reforça a urgência de políticas públicas que assegurem o direito ao sigilo, promovam o acesso igualitário à saúde e combatam o preconceito em todos os espaços sociais.

“Questão de gênero, classe social, trabalho, cor, identidade e orientação sexual ainda persistem. Para acabar com a AIDS, precisamos promover um país sem estigma e discriminação – e o Índice de Estigma é uma ferramenta que traz evidências de como a discriminação atua como uma barreira para acesso a serviços”, pontua Andrea Boccardi, diretora e representante do UNAIDS Brasil, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS.

O levantamento, intitulado Índice de Estigma, ouviu 1.275 pessoas em sete capitais brasileiras — São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Recife, Brasília e Manaus. Os autores do estudo argumentam que essas cidades representam a diversidade populacional e epidemiológica do país, também sendo os chamados “hotspots” — áreas e localidades de maior incidência de casos de AIDS ou de alta mortalidade.

O Índice de Estigma é uma ferramenta para detectar e medir a mudança de tendências em relação à discriminação relacionados ao HIV, a partir da perspectiva das pessoas vivendo com o vírus. Iniciado em 2008, o Índice é uma iniciativa conjunta da Rede Global de Pessoas Vivendo com HIV (GNP+), Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV/AIDS (ICW), Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), com apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).

No Brasil, a iniciativa é do Consórcio de Redes de Pessoas que Vivem com HIV e AIDS, lideradas pela ONG Gestos, com parceria da PUC-RS e apoio da Secretaria-Geral da Presidência da República e do UNAIDS.

Consequências do estigma do HIV

Além de causar sofrimento, o preconceito prejudica a busca por tratamento. Dos entrevistados, 13,1% foram tratados de forma discriminatória em serviços de saúde nos últimos 12 meses. As formas mais citadas de discriminação foram através de comentários negativos e fofocas, minimização de contato físico e a quebra de sigilo sobre seu diagnóstico sem seu consentimento. E quase metade dos ouvidos (46,1%) desconfiam que seu estado sorológico não é mantido em sigilo nos serviços de saúde.

Para Jô Meneses, coordenadora de Educação e Assistência da ONG Gestos, chama atenção, sobretudo, o fato de ainda existir estigma e preconceito nos serviços de saúde: “A gente já sabe que as pessoas que vivem com HIV, que tomam sua medicação corretamente, que fazem seu tratamento, elas não transmite para outras pessoas, elas estão indetectáveis e a transmissão é zero. E nem isso tem nos ajudado, então precisamos massificar os dados com relação a estigma, massificar outras informações que mostram que não se justifica mais [o preconceito].”

Ao tornar ainda mais penosa a experiência de se viver com HIV no Brasil, o preconceito afeta a saúde mental dessa população. Dentre os entrevistados, 29,1% demonstraram sintomas de depressão e 41,2% relataram sintomas de ansiedade relacionados ao estigma.

A maior parte das pessoas reportou não ter experiências boas ao informar que se vive com HIV para pessoas que não fossem próximas a elas (55,4%). Nesse sentido, a Lei Federal nº 14.289, de 2022, garante o sigilo sobre a condição de pessoas vivendo com HIV, hepatites crônicas, hanseníase e tuberculose. Mesmo assim, parte dos entrevistos relata que a comunicação de que se vive com HIV foi feita sem o seu consentimento para grupos que não são de seus círculos íntimos, como vizinhanças, colegas de trabalho e empregadores, professores e colegas de aula, lideranças religiosas e através de redes sociais.

Efeitos da crise climática e da pandemia de Covid-19

A edição 2025 do levantamento no Brasil incluiu pela primeira vez dados sobre os efeitos das crises climáticas e da pandemia da Covid-19.

Entre as pessoas vivendo com HIV no país, após eventos climáticos extremos, 82,1% ainda não haviam recuperado sua renda familiar, 20,5% enfrentaram dificuldades para obter medicamentos e 27,3% tiveram a consulta médica para acompanhamento do HIV cancelada ao menos 1 vez.

A pesquisa também investigou o impacto da pandemia de Covid-19 na vida das pessoas entrevistadas, bem como no acesso a serviços de cuidado, relacionados ou não ao HIV.

Dentre as pessoas que vivem com HIV, 47,2% receberam também o diagnóstico positivo para Covid-19. Dentre esse subgrupo, 76,1% afirmam ter recebido atendimento de saúde adequado, enquanto 23,9% relataram o contrário.

A maioria das pessoas entrevistadas recebeu uma quantidade de medicamentos do tratamento do HIV para 3 meses ou mais (79,5%) e conseguiu retirar seus medicamentos sem dificuldade. Apesar disso, 13,6% das pessoas enfrentaram dificuldades, e 2,9% não conseguiram retirar seus medicamentos. Além disso, 6,1% das pessoas entrevistadas receberam medicamentos apenas para 1 mês ou menos. E 24% afirmaram que algum serviço de saúde foi remarcado ou cancelado devido à pandemia de Covid-19.

Situação no resto do mundo

De acordo com o UNAIDS Brasil, não há uma lista oficial única que mostra o ranqueamento de países em relação ao índice de estigma, uma vez que, embora a metodologia seja única, ela sofre alterações que se adequam a realidade de cada país.

Mas a partir de uma compilação de dados globais, a entidade elabora um ranking de países por nível de estigma, sendo os melhores colocados aqueles com menos estigma e discriminação. Nesta classificação, o Brasil aparece em quarto lugar, atrás de Canadá, Portugal e África do Sul.

Confira o Ranking Global de Estigma e Discriminação UNAIDS:

  1. Canadá (Acesso universal a tratamento e criminalização da discriminação)
  2. Portugal (Redução drástica do estigma após descriminalização de drogas e foco em saúde pública)
  3. África do Sul (Melhorou significativamente, mas ainda enfrenta desafios em áreas rurais)
  4. Brasil (Políticas avançadas, mas desigualdades regionais e violência contra populações-chave)
  5. Tailândia (Liderança na região asiática, mas discriminação no local de trabalho ainda ocorre)
  6. México (Avanços legais, mas violência contra grupos vulneráveis (como homens gays e trans)
  7. Índia (Estigma familiar e no emprego, especialmente contra mulheres)
  8. Quênia (Melhorias recentes, mas altos níveis de estigma religioso)
  9. Rússia (Políticas repressivas contra LGBT+ e falta de programas de redução de danos)
  10. Nigéria (Criminalização da homossexualidade e altos níveis de exclusão social)

Os critérios usados para o ranqueamento foram leis e políticas de países que criminalizam transmissão de HIV ou grupos-chave, pois estes tendem a ter piores rankings; acesso a saúde, uma vez que a discriminação em unidades de saúde piora o índice; o estigma social, pois dentro deste critério há relatos de exclusão familiar, perda de emprego ou violência (muitas vezes institucionalizada); e o autoestigma da pessoa vivendo com HIV por estar ou ter sido infectada.

Em 2021, os Estados-membros das Nações Unidas adotaram um conjunto de metas ambiciosas como parte da Declaração Política aprovada na Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre AIDS, entre elas a meta 95-95-95: que 95% das pessoas que vivem com HIV conheçam seu diagnóstico; que 95% das pessoas que sabem que vivem com HIV estejam em tratamento antirretroviral; que 95% das pessoas em tratamento estejam com a carga viral suprimida.

Em 2024, o Brasil alcançou 96-82-95, duas das três metas globais para eliminação da AIDS como ameaça à saúde pública. A meta que ainda não foi alcançada, de adesão, está diretamente relacionada ao enfrentamento do estigma e da discriminação.

“Vimos no index agora que 60% da população trans tem medo de procurar os serviços de saúde pelo estigma. Estamos muito próximos, hoje, de eliminar o HIV como ameaça à saúde pública, que é a meta 95-95-95 do UNAIDS, mas estamos muito longe de atingir o segundo 95 [95% dos diagnosticados em tratamento]. Não buscam por quê? É de graça, são bem recebidas, são bem acolhidas. Não buscam porque têm medo, porque têm vergonha da situação sorológica. E é isso que a gente precisa ter evidências para poder criar políticas públicas que facilitem o acesso”, afirma Barreira.

O representante do ministério da Saúde também reconhece a necessidade de políticas públicas para aumentar o acesso das ferramentas biomédicas, como Prep (Profilaxia Pré-Exposição) e PEP (Profilaxia Pós-Exposição). No caso da Prep, oferecendo a medicação por canais alternativos às unidades de saúde, por exemplo, em máquinas dispensadoras, ou por meio de organizações da sociedade civil que atendam os grupos mais vulneráveis.

Brasil reduz mortalidade por Aids, mas registra alta nos casos de HIV

 

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