E é terrível constatar que 525 anos após a chegada dos portugueses ao litoral brasileiro os povos indígenas sobreviventes do genocídio ainda sejam alvo de tanto preconceito.
Mesmo com direitos assegurados pela nossa Constituição, as terras indígenas têm sido alvo sistemático da invasão ilegal de garimpeiros e grileiros. A cobiça é insaciável, assim como o desprezo pela vida humana e pelo meio ambiente. As justificativas variam: civilizar, catequisar, desenvolver etc. A intenção e as consequências são únicas: tomar todas as terras que apresentem alguma possibilidade de exploração econômica, imediata e predatória.
Isso até mesmo em Mato Grosso, berço de um dos maiores brasileiros, Cândido Mariano da Silva Rondon, ele mesmo parcialmente descendente das etnias bororo e guaná, reconhecido mundialmente por sua coragem, contribuição às ciências naturais e retidão de caráter. Rondon, o bandeirante do século XX, que não escravizou, pilhou ou massacrou.
Por isso, peço licença para homenagear Raoni Metuktire, um símbolo de resistência, sabedoria e luta dos indígenas brasileiros. Representante do povo kayapó, sua voz ecoa além das barrancas do Xingu, alcançando palcos internacionais onde defende com coragem e eloquência os direitos indígenas e a preservação ambiental.
Povos indígenas sobreviventes do genocídio ainda sejam alvo de tanto preconceito
Desde a década de 70, Raoni se destaca por sua liderança e entendimento profundo das ameaças que pesam sobre os territórios indígenas, levando ao mundo a denúncia do desmatamento desenfreado, da invasão de terras e do histórico descaso estatal para com os povos originários. Sempre esclarece que a sua luta não é local, mas universal: proteger a Amazônia significa garantir o equilíbrio climático e a biodiversidade para toda a humanidade.
Raoni não se curva às pressões políticas ou econômicas. Sua postura firme e seu discurso lúcido renderam-lhe reconhecimento global, sendo recepcionado e respeitado por chefes de Estado, ativistas e organizações internacionais.
Sua mensagem é clara, direta e urgente: sem floresta, não há futuro.
Sua presença serena e imponente, marcada pelo tradicional botoque labial, carrega a história e a cultura de seu povo. Raoni é a imagem de dignidade de um Brasil profundo e sofrido, que resiste à insensatez da destruição ambiental.
Celebrar Raoni é celebrar a luta pela vida. Viva Raoni! Viva a floresta! Viva todos que, como ele, lutam para que a terra continue fértil, os rios continuem vivos e sejam assegurados os direitos constitucionais dos povos indígenas brasileiros.
Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro independente certificado.