A sucessão no agronegócio não é exatamente um tema novo. Mas talvez seja hora de parar de repetir o que já sabemos e começar a agir de forma diferente, buscando soluções mais eficazes.
Você já se perguntou se o seu filho quer — e está preparado para — assumir o seu legado?
Existem muitas questões a serem analisadas:
Conflitos familiares: é comum vermos dificuldades nas relações entre gerações dentro do negócio, com conflitos que transbordam para dentro de casa, afetando os relacionamentos e gerando incômodos pessoais.
Falta de planejamento: muitos produtores cresceram e tiveram sucesso de forma empírica, com trabalho duro no campo. No entanto, muitas vezes pecam na organização e no planejamento da empresa. Quando percebem, o tempo passou e não houve preparação adequada para formar um sucessor.
Resistência às mudanças: a tecnologia está cada vez mais presente no campo, trazendo novos processos e estratégias. Muitos sucessores têm ideias inovadoras, mas nem sempre são bem recebidos. A velha frase “Eu tive sucesso assim, sem essas tecnologias” ainda ecoa. É importante valorizar quem construiu a história, mas por que não aprimorar ainda mais?
Desinteresse dos filhos em dar continuidade ao legado familiar: filhos que saem para estudar em grandes centros nem sempre retornam. E quando voltam, muitas vezes desejam seguir outra carreira e não se enxergam na rotina da fazenda.
Outras situações também poderiam ser citadas, mas o ponto central é: a sucessão não se resume à transferência de patrimônio. Trata-se, acima de tudo, da continuidade de um propósito — o que exige preparo, diálogo e, principalmente, conhecimento sobre as pessoas envolvidas.
A reflexão que trago aqui parte do momento em que a empresa já busca uma transição estruturada, com apoio profissional e um Planejamento de Sucessão bem desenhado.
Esse planejamento costuma ser parte integrante da implementação da governança familiar. É um processo construído a várias mãos — consultores, diretores, conselheiros e, claro, os possíveis sucessores.
Mas quem são, de fato, os seus possíveis sucessores? E o que você conhece sobre eles além do laço sanguíneo?
Aqui entra um ponto frequentemente negligenciado: a análise de perfil comportamental. Poucos produtores consideram que aquele filho mais comunicativo talvez não tenha vocação para liderar a operação, enquanto o mais introspectivo pode ter a exatidão analítica necessária para a gestão estratégica.
Você está preparado para encarar que nem sempre o herdeiro natural é o sucessor ideal?
Entender o perfil de cada potencial sucessor é essencial para avaliar se os cargos planejados realmente fazem sentido para aquela pessoa. Doa o quanto doer, sucessão não pode ser baseada apenas na tradição familiar. Não se trata de “quem merece mais” ou “quem esteve mais presente”, mas de quem tem o perfil certo para os desafios que virão.
Com ferramentas de análise comportamental e o suporte de profissionais especializados, o cenário começa a ganhar clareza. Identificam-se forças, lacunas e a aderência ao cargo. Com essas informações, é possível construir um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) baseado em dados, não em achismos.
Quanto mais se entende sobre o comportamento dos envolvidos, mais assertiva será a alocação nos cargos futuros.
Sim, uso o termo possíveis sucessores, porque estão sendo avaliados — não há garantias de que vão assumir.
E se ninguém da família tiver o perfil ideal? Forçar a barra? Ou considerar alguém de fora?
Essa pode ser a decisão mais difícil — mas também a mais estratégica. Insistir em um sucessor desalinhado pode gerar frustrações, romper relações familiares, comprometer os negócios e destruir um legado. Em alguns casos, olhar para o mercado pode ser a melhor saída.
A sucessão familiar é um tema complexo, cheio de nuances. Não acontece da noite para o dia. Precisa ser estruturada com a mesma seriedade com que se conduz uma grande safra: planejamento, análise, cuidado e profissionalismo.
Por isso, é fundamental contar com profissionais certificados e experientes para conduzir um processo tão decisivo. Assim, a colheita certamente será bem produtiva!
Já pensou em realizar um processo de sucessão estruturado com base em dados e comportamento?
Talvez esse seja o momento certo. Porque o tempo passa, os filhos crescem, os negócios evoluem — e o que será do futuro depende das decisões que tomamos agora.
Izabela Sefrin é mentora de gestão e Llderança.