Uma pesquisa recente mostrou que 45% das pessoas que fazem tratamento com inibidores de apetite, como o Ozempic, Wegovy e Mounjaro, conseguem manter uma alimentação saudável mesmo após o fim do uso do medicamento. Os dados, obtidos com exclusividade pela CNN, são de levantamento realizado pela Bain & Company.
Os inibidores de apetite têm se tornado cada vez mais populares. No Brasil, a pesquisa mostrou que 3% dos entrevistados admitiram já ter utilizado um desses tipos de medicamento. A popularidade desse tipo de medicamento, conhecido popularmente como caneta emagrecedora, se dá pelo efeito na perda de peso.
O Ozempic, da farmacêutica Novo Nordisk, é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, mas é amplamente usado off label para emagrecimento. Já o Wegovy, da mesma fabricante, é indicado para o tratamento da obesidade. Ambos são compostos da mesma molécula, a semaglutida, que atua diretamente na secreção de insulina pelo pâncreas, ajudando a regular o nível de glicemia e levando à maior saciedade.
Já o Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, é composto por tirzepatida, que estimula dois hormônios (o GLP-1 e o GIP) responsáveis por sinalizar o cérebro no controle do apetite, além de estimular a produção de insulina pelo corpo.
Durante tratamento, 71% dizem comer menos em cada refeição
A pesquisa da Bain & Company mostrou que 71% dos entrevistados comeram menos em cada refeição durante o tratamento feito com inibidores de apetite. Além disso, 51% afirmaram fazer menos refeições nesse período, e 41% tiveram uma dieta mais saudável.
Além disso, durante o tratamento, os entrevistados passaram a ter hábitos mais saudáveis: 35% dizem ter se exercitado mais, enquanto 23% afirmaram ter bebido menos álcool.
Mesmo com essas taxas representando queda após o fim do tratamento, o número se manteve significativo: 43% afirmam que ainda comem menos em cada refeição, e 29% ainda fazem menos refeições ao longo do dia. Em relação à atividade física, 30% dizem se exercitar mais desde o fim do tratamento e 19% afirmam beber menos álcool.
Por outro lado, o hábito de manter uma dieta mais saudável foi mais prevalente após o tratamento: 45% daqueles que já deixaram de tomar esse tipo de medicamento mantêm uma alimentação equilibrada, ante 41% dos que mencionaram adotar uma dieta saudável durante o tratamento.
Mudanças na dieta podem ser oportunidade para reeducação alimentar, diz nutricionista
Recentemente, outra pesquisa mostrou que o uso de medicamentos como o Ozempic, Wegovy e Mounjaro levam a mudanças nos hábitos alimentares. Pesquisadores da Universidade do Arkansas, nos Estados Unidos, realizaram um levantamento nacional que descobriu que pessoas em tratamento com canetas emagrecedoras dizem consumir menos alimentos ultraprocessados e refrigerantes.
Para Renata Paz, especialista em nutrição esportiva e pós-graduada em medicina ortomolecular, a mudança em padrões alimentares promovida pelo tratamento com esse tipo de medicamento pode ser uma oportunidade para a reeducação alimentar — principalmente, quando feita com acompanhamento profissional de nutricionista ou nutrólogo.
“O principal, depois que a pessoa faz o uso dos inibidores, é mudar o mindset com a alimentação. Será preciso mudar os hábitos, entrar com alimentos que, realmente, dão saciedade, porque ela vai estar muito habituada a esse comportamento com a medicação”, afirma Paz à CNN.
Ela cita como exemplos alimentos ricos em fibras, como verduras, frutas, sementes e aveia. Também é importante aumentar a quantidade de proteínas consumidas nas refeições e investir em gorduras monoinsaturadas, como as presentes no azeite de oliva e nas castanhas.
Outra boa opção, segundo a nutricionista, é a massa konjac, feita de uma raiz originária da Ásia que é rica em fibras e tem poucas calorias. “Ela é rica em glucomanan, uma fibra que melhora o trânsito intestinal do paciente, aumenta a leptina e reduz a grelina, que é o hormônio responsável pela sensação de fome”, explica.
A especialista também cita a suplementação como uma alternativa para o aporte adequado de nutrientes após o desmame de inibidores de apetite, desde que feito sob prescrição profissional.
Além disso, ela orienta a praticar atividade física para aumentar a serotonina, hormônio relacionado à sensação de bem-estar e felicidade.