O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, destacou o papa Francisco como um líder aberto às periferias e firme contra abusos sexuais dentro do clero católico. Vislumbrou um papa não europeu e alertou para que ninguém se surpreenda se for africano ou asiático.
Mas também alertou não se deve aguardar uma réplica do papa que acabou de morrer.
Que “ninguém espere que o próximo papa seja o Francisco 2”, mas há uma coerência teológica a se seguir. “Ninguém espere um papa a favor da guerra. Ninguém espere um papa que não cuida dos pobre”, afirmou. E o futuro pontífice, também pontuou, “será uma pessoa humana, não um robô”.
Em entrevista a jornalistas na Catedral da Sé nesta segunda (21), horas após a morte de Francisco, o brasileiro disse que deverá ir ao conclave que elegerá o novo papa, e antes disse ao funeral de Francisco.
Dom Odilo lembrou que o colégio de cardeais, que apontará o sucessor de Francisco, está “muito mais internacionalizado do que antes”. O número de europeus era maciço no psssado. O papa recém-falecido indicou cerca de 80% dos novos cardeais, muitos vindos da África, da Ásia e da América Latina.
“Ninguém deveria se surpreender se fosse escolhido um cardeal africano pra ser papa, ou um asiático”, ou mesmo um italiano, disse.
Dom Odilo diminuiu o peso de rótulos como “papa progressista” ou “conservador” —dentro da Igreja, Francisco era associado ao primeiro.
“Essa preocupação é externa. A Igreja, em base ao ensinamento dela, do Evangelho, é tanto progressista como conservadora”, afirmou. Preocupar-se com imigrantes ou paz mundial, segundo ele, são valores universais para o catolicismo, e não etiquetas ideológicas.
O cardeal brasileiro citou “a firmeza na busca dele por correção de certos desvios morais dentro do clero que precisavam ser corrigidos”, uma alusão às consecutivas denúncias de abuso sexual cometido por sacerdotes, muitas vezes contra menores de idade que serviam à Igreja.
Disse que os antecessores João Paulo 2 e Bento 16, mas foi Francisco quem “tomou medidas novas, drásticas” para “corrigir uma chaga moral dentro do clero”.
Dom Odilo disse que recebeu a notícia com pesar, mas sem surpresa, o informe sobre a morte, “porque nós acompanhamos o estado de saúde do papa”. Citou o uso de cadeira de rodas e de medicamentos como corticoides. “Era visível que estava com o rosto inchado, o corpo inchado.” A pneumonia teria sido um golpe forte para um idoso como Francisco.
“Todos têm direito de torcer”, dom Odilo brincou sobre uma possível indicação para que ele próprio assuma a cabeceira do Vaticano depois de Francisco.
No conclave de 2013, dom Odilo chegou a ser mencionado como possível líder da Santa Sé. O colega argentino Jorge Mario Bergoglio acabou eleito pelos pares.
No ano passado, ele encaminhou ao papa um pedido para renunciar o comando da Arquidiocese de São Paulo, cargo que ocupa desde 2007.
Na época, o pontífice acolheu a solicitação, porém pediu para o arcebispo ficar no cargo até o final de 2026.
A solicitação faz parte de uma norma da Igreja Católica. Os bispos solicitam a renúncia ao Vaticano ao completarem 75 anos.
Francisco morreu no início da manhã desta segunda. O anúncio foi feito pelo cardeal Kevin Farrell, por meio de uma mensagem de vídeo do Vaticano. “Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco”, disse Farrell. “Às 7h35 desta manhã (2h35 de Brasília), o bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai.”
Francisco esteve na Basílica de São Pedro, no Vaticano, neste domingo para a tradicional bênção de Páscoa. Com dificuldades para falar, afirmou que existe uma “crise dramática e indigna” na Faixa de Gaza, condenou o aumento do antissemitismo pelo mundo e disse que não há paz sem liberdade religiosa.