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Há 94 anos, missão dos EUA filmou “vida selvagem” em MT; veja

Em 26 de dezembro de 1930, um navio a vapor partiu de Nova York com destino à América do Sul. A bordo, antropólogos, médicos, cineastas e aventureiros traçavam rotas e planejavam uma expedição cujo objetivo era desbravar o interior de uma região inóspita e quase selvagem: o estado de Mato Grosso.

 

Gera esse filme que é considerado um dos primeiros documentários sonoros da história do cinema

Finalizada em meados de novembro de 1931, a expedição foi responsável pela produção do documentário “Matto Grosso: The Great Brazilian Wilderness”, e atualmente é objeto de estudo do grupo de pesquisa “Memória e Preservação do Cinema e Audiovisual em Mato Grosso: Acervo, História e Cineclubismo”, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

 

O projeto, coordenado pela professora Letícia Capanema em parceria com o professor Diego Baraldi, realizou uma visita à Universidade da Pensilvânia em abril de 2025, trazendo à tona a expedição responsável pelos registros cinematográficos sobre a população bororo em 1931.

 

“A Expedição Mato Grosso, além de ser uma expedição que vai gerar um monte de documentos, imagens, fotografias daquilo que eles vão encontrar no percurso da expedição, também gera esse filme que é considerado um dos primeiros documentários sonoros da história do cinema”, declarou Capanema. 

 

Financiada pela Universidade da Pensilvânia, a chamada “Matto Grosso Expedition” foi organizada em 1930  por uma equipe internacional composta pelo russo Vladimir Perfilieff, o letão e guia Alexander “Sasha” Siemel, o antropólogo italiano Vincenzo Petrullo, o empresário Fenimore Johnson, o pesquisador James A.G. Rehn, o repórter David Newell, o cineasta Floyd D. Crosby, o cinegrafista John S. Clarke e o fotógrafo Arthur P. Rossi.

 

A missão pretendia “filmar a vida nas selvas brasileiras – com filmes sonoros –, realizar explorações, caçar e recolher espécimes curiosos da fauna, além de colecionar adornos indígenas e tudo o que interessasse ao museu da Universidade da Pensilvânia”, segundo explicou o capitão da expedição, Perfilieff, em entrevista ao jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, em 1931.

 

Início da expedição

 

Reprodução

Membros da expedição na entrada de uma caverna

Membros da expedição na entrada de uma caverna

A ideia de explorar as selvas brasileiras partiu de Vladimir Perfilieff, que buscou apoio financeiro na Universidade da Pensilvânia.

 

Após uma série de negociações, a universidade se interessou pelo projeto e, por meio do diretor do departamento de Museu e Antropologia, Horace H. F. Jayne, concedeu um financiamento de aproximadamente US$ 5 mil. Também foi designado um antropólogo, Vincenzo Petrullo, para integrar a equipe.

 

Em troca, Perfilieff comprometeu-se a fornecer parte dos registros e objetos coletados durante a jornada. Cartas datadas de julho de 1930, presentes nos arquivos da universidade, revelam detalhes dessas negociações.

 

“Um número razoável de filmes será dedicado ao registro científico da vida e dos costumes nativos, e, se o equipamento permitir, também serão gravados exemplos de línguas e produzidas cópias para o museu”, afirmava uma das cartas enviadas pela Universidade da Pensilvânia.

 

Pouco tempo depois, Alexander Siemel se juntou à expedição. Seu conhecimento da região e dos povos locais era reconhecido no meio acadêmico norte-americano, devido a artigos publicados em jornais e revistas dos EUA. Siemel havia vivido 21 anos na América do Sul, sendo 10 deles em Mato Grosso.

   

Com a equipe definida e a rota traçada, a expedição partiu de Nova York um dia após o Natal de 1930 a bordo do Western World, da Munson Line.

  

Após a chegada a Montevidéu, no Uruguai, o grupo seguiu de barco pelo rio Paraguai até Corumbá (à época pertencente ao estado de Mato Grosso). O destino final era o Rancho dos Descalvados, em Cáceres, onde seria gravado o documentário.

 

O filme

 

Embora seja um documentário todo encenado, ainda assim é um documentário, com narração em inglês

Considerado o primeiro documentário com som sobre os povos indígenas brasileiros, o filme completo tem cerca de 50 minutos de duração. Foi filmado pelo cinegrafista Floyd D. Crosby, vencedor do Oscar de cinematografia por “Tabu”, meses antes da expedição.

 

Como explica a professora Letícia Capanema, em 1930 o cinema passava por um período de transição entre o mudo e o falado. Apesar de já existirem aparelhos capazes de captar som em estúdios, o filme se tornou pioneiro por realizar essa captação em ambiente externo.

 

“Essa equipe de cinema trouxe um equipamento que era novo na época, ainda não havia sido comercializado. Em 1931 ainda não existiam equipamentos disponíveis no mercado, em escala industrial, para captação de som direto em externas”, explica.

 

“Eles adaptam esse equipamento junto com uma câmera, era uma câmera nova, chamava lithium, e esse equipamento vem com essa expedição por acaso”, acrescenta.

 

Um pequeno trecho de 1m37s, disponibilizado no canal do Museu da Pensilvânia no YouTube, mostra cenas que registram indígenas em rios, praticando pesca e passeando de barco.

 

 

As imagens incluem ainda uma breve encenação do momento em que a expedição chega à aldeia bororo — local onde a maior parte das filmagens foi realizada.

 

“Embora seja um documentário todo encenado, ainda assim é um documentário, com narração em inglês”, observa um dos responsáveis pela divulgação do material.

 

Em outros registros, descartados na edição final do filme, é possível ver momentos em que os pesquisadores participam de atividades locais, como a pesca. Apesar de não apresentarem som, as imagens mostram animais sendo capturados tanto pelos indígenas quanto pelos visitantes.

 

Já em outra gravação, membros da expedição realizam escavações em áreas indígenas para a análise de objetos para documentação arqueológica e etnográfica dos povos locais (veja abaixo).

 

Reprodução

Adultos e crianças da aldeia Bororo de Tadirimana

Adultos e crianças da aldeia Bororo de Tadirimana em exibição do filme

Apesar de seu valor histórico por ter sido um dos primeiros registros documentais sonoros, o filme foi um fracasso de bilheteria. Teve sua estreia oficial em 13 de janeiro de 1933, segundo informações disponíveis no site IMDb (Internet Movie Database). 

 

Não há registros precisos sobre sua estreia no Brasil, mas jornais de 1934 indicam que o documentário foi exibido no país naquele ano.

 

Com o título português “Matto Grosso e Suas Selvas”, o documentário foi amplamente divulgado na imprensa brasileira como uma produção “altamente educativa”, recomendada para “crianças e adultos”.

 

Anos depois, em meados de 2013, “Matto Grosso: The Great Brazilian Wilderness” foi reexibida no Brasil — desta vez na aldeia bororo Tadirimana, em Rondonópolis. Na ocasião, outro filme também foi exibido: trata-se de “The Hoax”, obra redescoberta recentemente por pesquisadores.

 

Segundo relato de Letícia Capanema, a história de “The Hoax” é mais próxima do universo dos indígenas ao acompanhar uma criança durante uma caçada nas proximidades da aldeia. 

 

“Esse outro filme traz uma historinha mais colada ao universo das pessoas que estão sendo retratadas. Embora seja uma narrativa construída a partir do olhar estrangeiro de um cineasta estadunidense que integrou a expedição, ela mostra esse esforço de aproximação”, explica a professora.

 

O filme só foi redescoberto recentemente devido a um erro de catalogação, que o havia levado a outro acervo.

 

Projetos

 

Com o início das pesquisas e a recuperação de materiais históricos, o grupo de pesquisa da UFMT planeja exibir as obras para a comunidade e incorporá-las ao acervo do Cineclube Coxiponés.

 

“Essa ida ao Museu da Pensilvânia faz parte de um projeto mais amplo, que visa organizar melhor o acervo do cinema e do audiovisual mato-grossense, tendo como base o Cineclube Coxiponés, que já possui uma trajetória importante. A viagem à Pensilvânia representou uma expansão desse acervo, com a incorporação de novos itens”, explica a pesquisadora.

 

Entre os próximos passos estão a realização de estudos comunicacionais sobre os conteúdos produzidos pela expedição, além de exibições públicas das obras cinematográficas para a comunidade.

 

“Uma das solicitações que fizemos foi a incorporação oficial do filme ao acervo do cineclube, com permissão para exibição e acesso público. Eles autorizaram tudo — a incorporação do filme, do material fotográfico e também do acervo documental”, conclui.

 

Apesar da solicitação já ter sido realizada junto a Universidade da Pensilvania, o grupo de pesquisadores da UFMT aguardam a finalização da documentação que permitirá a projeção e a distribuição oficial do material em Mato Grosso. 

 

Vídeo

 

 

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