O caminhoneiro Regivaldo Batista Cardoso, de 47 anos, viu a vida desmoronar em novembro de 2023, quando perdeu a família inteira no crime que chocou o País e ficou conhecido como “Chacina de Sorriso”. Hoje, ele diz viver em uma “prisão perpétua” e que, para ele, o assassino “não merece viver”.
Só falava: ‘Vem embora, vem embora, que assassinaram todas’. Ah, meu mundo acabou
Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos, Miliane Calvi Cardoso, de 19, Manuela Calvi Cardoso, de 13, e Melissa Calvi Cardoso, de 10 anos, foram brutalmente assassinadas na noite do dia 24 daquele mês. Os corpos só foram encontrados três dias depois.
O pedreiro Gilberto Rodrigues dos Anjos, que trabalhava em uma obra ao lado da casa das vítimas, foi quem cometeu o crime, invadindo a propriedade por uma janela enquanto Regivaldo estava fora da cidade a trabalho.
O pai diz ainda ser assombrado pela culpa de não estar presente para defender a mulher e as filhas. “Eu me sinto culpado de não ter estado ali para ajudar ela da mão de um desgraçado daquele. Aquele cara não merece viver! Por mais que eu seja cristão, sei que Jesus morreu para todos, mas uma pessoa desse tipo não merece, no meu pensamento”, disse.
Regivaldo relembrou como foi, à época, quando descobriu que perdeu a família, como tem lidado com a perda e o que espera da Justiça.
Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra do vídeo abaixo da matéria):
MidiaNews – Como descreveria a rotina da família antes dessa tragédia?
Regivaldo Batista Cardoso – Era uma rotina tranquila, normal, como toda família. Às vezes, mudava um pouquinho a dinâmica pelo fato de eu viajar. Eu chegava em casa, as meninas queriam mais atenção e me davam mais atenção também. Levava elas nos parques, a gente saía bastante. Em casa, procurava sempre fazer o que podia junto com elas. Eu chegava de viagem e era minha casa. Não tinha aquele negócio de ficar em pátio de posto.
Então, a nossa convivência era tranquila, sempre juntos, fazíamos tudo juntos. Se eu ia para a rua, nós íamos juntos. Quando estava em casa, no meio da semana, levava as meninas na escola, voltava, pegava a Cleci, a Mimi, a gente ia dar uma volta na rua. Éramos unidos.
MidiaNews – Elas eram muito carinhosas com o senhor?
Regivaldo Batista Cardoso – Sim, demais. Demais. Todas elas. Eu procurava passar para elas também o máximo que podia. Às vezes, chegava cansado, não queria muita conversa. Às vezes, a gente chega com a cabeça cheia, mas era uma convivência muito boa. A gente sempre foi de chegar e dar um abraço, dar um beijo. Na hora de sair, também. Estava sempre brincando um com o outro.
MidiaNews – O senhor passava muito tempo na estrada?
Regivaldo Batista Cardoso – Não, era questão de três dias. O máximo que ficava naquele transporte de Miritituba eram sete dias. Dali, a Cleci já reclamava e eu tinha que voltar. Teve uma época que era só Sorriso, saía e em dois dias estava em casa.
MidiaNews – E quando estava na estrada, procurava estar sempre presente?
Regivaldo Batista Cardoso – Conversava. Mais com a Cleci. A Manu me mandava mensagem todo dia de manhã. Eu e a Miliane, a gente conversava de vez em quando. Mas o contato maior era com a Cleci, minha esposa. A gente se falava todo dia. E daí ela passava: “As meninas estão assim…”, “As meninas querem isso…”. Mesmo viajando, eu estava sempre em contato.
MidiaNews – Quais eram os sonhos e planos que elas compartilhavam com o senhor?
Regivaldo Batista Cardoso – O sonho da Miliane era ser médica veterinária. Porém, ela estudava Agronomia, porque em Sorriso não tinha Medicina Veterinária. Tínhamos planos de ir para Guarantã do Norte. Inclusive, compramos um terreno lá. A Cleci ia para o último ano de Agronomia. Ela até tentou mudar a faculdade para Guarantã, mas eles falavam que ela teria que fazer as provas em Sorriso. Ela falou: “amor, não vou dar conta de ir toda sexta-feira para Sorriso, vai ser cansativo, vai ter muito gasto. Então, vamos terminar a minha faculdade aqui, depois a gente vai. E a Miliane muda a faculdade dela de Agronomia para Medicina Veterinária”. Era o que ela queria.
Se tivesse conseguido mudar para Peixoto, a gente já estaria morando lá. Vimos casas, elas passaram um final de semana em Guarantã, rodaram a cidade, gostaram da cidade, porque a gente gostava de cidadezinha pequena. O que nos impediu de ir antes foi ela não conseguir transferir a faculdade. Iríamos quando ela terminasse, faltava aquele resto de ano e íamos ficar 2024 em Sorriso. Em 2025, agora, a gente ia estar morando em Guarantã. Eram os planos. Estava tudo certo.
MidiaNews – Como o senhor recebeu a notícia? Qual foi a primeira reação?
Regivaldo Batista Cardoso – Na sexta-feira eu já estava preocupado, porque foi o último contato. Tentei à noite e no sábado de manhã, depois à tarde e no domingo durante todo o dia. Onde pegava sinal de telefone, eu mandava mensagem, ligava. No domingo foi o dia que mais liguei, liguei para a polícia ir até lá. A polícia foi, estava meu carro, os cachorros, ar-condicionado ligado, tudo normal.
Na segunda-feira, a minha esperança era a Manu me mandar mensagem. Todo dia ela me mandava mensagem antes de ir para a escola. E aquela mensagem não chegou. Antes de ligar para a escola, tentei ligar para elas várias vezes, nos três telefones delas, e nada… Na escola, quando constatamos que elas não estavam na aula, foi que me desesperei mesmo. Falei: “Alguma coisa aconteceu”. Porque a Cleci nunca deixou de levar as meninas para a escola sem avisar, sem comunicar o porquê.
Desliguei o telefone e liguei para a minha sogra. Ela falou que a última vez que conversou com elas foi na sexta. Todo sábado a Miliane ia ajudar a avó a limpar a casa e ela ligou para a avó e falou: “Vó, não vou porque estou com muita cólica”. E ela não foi naquele sábado.
Falei para minha sogra: “Tem coisa errada, porque desde sexta não consigo contato com elas”. Aí ela falou: “Vou pedir para a Elenara [cunhada] dar uma olhada”. Nisso, eu já liguei para a polícia também. Expliquei tudo para eles. Falei: “Não sei o que está acontecendo. Quero saber o que está havendo”. Eles foram de novo. Na hora que a minha cunhada chegou lá, eles já estavam lá. Ela olhou por baixo do portão, estava tudo normal. Ela achava que, de repente, elas poderiam ter sido pegas na rua, porque gostavam de andar de bike. Só que ela viu as bicicletas penduradas. Os policiais queriam matar os cachorros para entrar. Ela não deixou. Chamaram os bombeiros para sedar os animais. Só que não conseguiram sedar o Fumaça, que é o macho. Derrubaram o portão e deixaram ele fugir.
Quando entraram, se depararam com a cena. Tudo fechado, as portas fechadas por dentro. Quando a minha cunhada entrou, parece que já viu alguma mancha de sangue. O policial não deixou mais ela entrar, já foi trazendo ela para fora. Eu, de longe, tentando contato, até que consegui ligar para ela. Ela conseguiu me atender. Estava desesperada. Só falava: “Vem embora, vem embora, que assassinaram todas”. Ah, meu mundo acabou. Ali acabou a vida. Acabou tudo.
MidiaNews – Em algum momento pensou que algo assim pudesse ter acontecido?
Regivaldo Batista Cardoso – Não assim. Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo. Achei que elas estavam bravas comigo, porque eu não ia embora naquela viagem. A Cleci falou: “Você está indo embora já?” Eu falei: “Não, vou fazer mais uma ou duas viagens”.
Ela: “Amor, sacanagem. Você sabe que eu não gosto que você fique muito tempo fora”.
Mas falei: “Não, vou aproveitar, faço mais umas duas, para valer a pena aqui e depois vou embora”. Nunca imaginava. Estava preocupado, sim, que alguma coisa estava acontecendo, mas não imaginava uma coisa desse tamanho.
MidiaNews – Quando soube o que aconteceu, sua ficha demorou para cair?
Regivaldo Batista Cardoso – No começo foi complicado. Acho que até chegar em casa e ver a minha sogra, ver as irmãs, minhas cunhadas. Acho que foi ali que caiu a ficha mesmo. Foi difícil.
MidiaNews – E você chegou a entrar na casa?
Regivaldo Batista Cardoso – Não, nunca mais voltei lá. Não tenho coragem. Eu não vi nem a entrevista que foi feita logo no início. A chegada naquele portão tinha muitas lembranças. Tem muitas lembranças. Elas já estavam no portão. Eu abria o portãozinho pequeno, a Melissa já estava ali para me dar um abraço. A Cleci já vinha na porta. Então, não tenho vontade de voltar lá, não.
MidiaNews – E como tem sido lidar com a ausência da Cleci e das filhas?
Regivaldo Batista Cardoso – Tem sido muito difícil. Eu sinto elas comigo. Eu vivo a minha vida como se elas estivessem junto. Às vezes pode falar: “Ah, é loucura desse pai”. Não é. Eu vivo como se elas estivessem comigo. Às vezes, falo coisas e falo: “Né, Miliane? Né, Melissa?”. Vou comer alguma coisa e lembro que elas gostavam. Como se eu estivesse vendo elas junto comigo.
Tem coisas que vou no mercado e não compro. Porque sei que elas gostavam. Um chocolate, um simples chocolate. Quando eu chegava de viagem, às vezes eu passava no posto, abastecia e pegava cinco chocolates. Um para cada um. Eu não pego chocolate mais hoje. Porque tudo me lembra elas.
MidiaNews – O senhor ainda sonha com elas?
Regivaldo Batista Cardoso – De vez em quando. Mas sonhos muito rápidos. Nunca fui de sonhar. Mas já sonhei com elas. Peço a Deus que Ele me mostre um dia elas. Se for da vontade de Deus, me mostrar elas. Como elas estão no paraíso. Eu queria ver. Mas aí é com o Senhor, né? Ele que sabe.
MidiaNews – Em outras entrevistas, o senhor disse que mantém os pertences da família. Isso tem sido uma forma de manter a conexão com elas? Acha que isso pode dificultar o luto?
Regivaldo Batista Cardoso – Todos. É um jeito também e não dificulta, não, porque elas sempre vão estar comigo. Nunca vou esquecer delas. Elas são como um membro do meu corpo que foi arrancado. Você não vê aquele membro, não faz mais nada com ele, mas, em alguns segundos, você vai sentir e querer movimentar ele. É assim quando a gente perde uma perna, um braço ou um dedo. A mesma coisa são elas para mim. Elas estão vivas em mim. É um pedaço meu.
Eu e a Cleci éramos um só, e de nós vieram as três. Pode passar quantos anos for, isso não vai mudar. Eu nem quero que mude. Quero levá-las sempre vivas comigo. Pode ser que um dia eu vá doar os vestidos, as roupas. Agora, os bichinhos de pelúcia, não. Os brinquedos delas vão ficar lá, os desenhos que elas faziam, as cartinhas que elas escreviam… Elas tinham o costume de fazer cartinhas pequenininhas: “Papai, eu te amo”. “Mãe, eu te amo”. “Boa viagem, mãe”. “Boa viagem, pai”. Vou deixar tudo guardadinho. Eu coloquei um sofazinho com os bichinhos de pelúcia delas. Eu entro no quarto e falo: “Hoje vou limpar o quarto das meninas.” Vou deixar lá até o dia que eu partir.
MidiaNews – O senhor mencionou em entrevistas anteriores sentimentos de culpa por não estar presente. Isso ainda te assombra?
Regivaldo Batista Cardoso – Às vezes [me assombra]. Em casa, sozinho, você começa a pensar: “Poxa, elas podiam estar aqui comigo”. Penso: “Se eu estivesse junto, eu poderia defender elas”. O Beto falou: “Mas você poderia ter morrido também”. Amém! Pelo menos eu estaria junto com elas hoje. Não estaria passando por isso.
Vejo o rosto da Melissa, da Manu, da Miliane, da Cleci… Com certeza, ela tentou defender as meninas. Então, penso… Eu me sinto culpado de não ter estado ali para ajudar ela da mão de um desgraçado daquele. Aquele cara não merece viver! Por mais que eu seja cristão, sei que Jesus morreu para todos, mas uma pessoa desse tipo não merece, no meu pensamento. A Bíblia diz que sim, e eu tenho que concordar com a palavra. Mas sou pai. Eu tenho todo o direito de sentir ódio, tenho todo o direito de sentir raiva. Um cara desse não merece viver.
Então, me sinto, às vezes, culpado de não ter estado ali para defender elas. Acredito que ele nem invadiria a casa. Ele se aproveitou de quatro mulheres indefesas. As minhas filhas eram muito espertas. Às vezes, eu fico pensando: “Como não conseguiram abrir uma janela e pular para fora?” Porque, se elas pulassem e ele pulasse atrás, os cachorros iam defender. Mas a gente não sabe a hora que esse desgraçado entrou na casa. Só ele sabe. Não diz no depoimento. Acho que ele pegou elas num momento em que não esperavam: à noite, tudo escuro, a casa estava toda fechada, dormindo. Não é a primeira vez que ele faz isso, que ele tira a vida de uma pessoa. O cara já sabe o que fazer. É um miserável.
MidiaNews – O senhor expressou sentimentos de ódio e até vontade de matar o assassino. Como tem sido lidar com esses sentimentos? Ainda sente vontade de fazer justiça com as próprias mãos?
Regivaldo Batista Cardoso – Não vou mentir. Passa ainda [esse sentimento]. Eu posso sentir raiva. Eu posso sentir raiva, posso ter ódio. Eu não posso deixar a minha raiva e o meu ódio fazer com que eu faça acontecer… Eu não sei qual será a minha reação se eu estiver frente a frente com ele.
MidiaNews – O senhor tem vontade de encontrá-lo? O que diria ao assassino se pudesse ficar cara a cara com ele?
Regivaldo Batista Cardoso – Espero encontrá-lo no julgamento e que as autoridades não façam esse julgamento online. Seria uma covardia com a nossa família. Espero estar presente no julgamento e que seja feito em Sorriso. Estão pedindo o desaforamento da cidade. Por que? A cidade não é capaz de punir o cara? O Estado não é capaz de dar uma segurança para ele? Não está dando até hoje? Não tiraram o infeliz de helicóptero da cidade? Se vira!
Não vai trazer elas de volta, mas nada mais justo com a família do que fazer esse júri em Sorriso e ele ser condenado pela população de Sorriso, sentir o desprezo. Dane-se ele! Não se preocupam com nós. Estou vivendo numa prisão perpétua, porque nunca mais vou vê-las. A minha sogra vive nisso, as minhas cunhadas… Eles não pensam no sofrimento da gente, pensam na segurança do indivíduo. Vagabundo! Espero que ponham a mão na consciência e marquem logo a data desse júri. Não sei nem o que eu faço se eu estiver na frente dele. Não sei qual será a minha reação. Posso falar alguma coisa, como posso não falar. Só no momento para a gente saber.
MidiaNews – Qual é a sua percepção sobre o andamento do processo contra o assassino? Acha que a Justiça está sendo feita de maneira adequada?
Regivaldo Batista Cardoso – Está muito lento. Ele já foi condenado em Lucas do Rio Verde, foi condenado por um crime também em Goiás. E o nosso? Vai esperar mais quanto tempo? Está na mão de quem? Eu sei que foi pedido o desaforamento da cidade [procedimento que consiste na transferência do julgamento de um crime pelo Tribunal do Júri de uma comarca para outra].
Na última conversa que tive com o doutor Conrado, ele disse que o juiz foi favorável a fazer o júri lá [em Sorriso]. Agora, não sei se o processo está lá ou se está com o Tribunal de Justiça, se está na mão de algum desembargador. Se estiver, peço, pelo amor de Deus, que resolva logo. Dê uma resposta à sociedade e a nós. Faça logo esse júri e dê um alívio para nós. Não vai trazê-las de volta, não vai amenizar a nossa dor, mas dará um alívio saber que ele está condenado.
MidiaNews – Acredita que houve falhas no sistema que permitiram que o autor cometesse esse crime?
Regivaldo Batista Cardoso – Eu acredito, não, eu tenho certeza que houve falha. Porque ele tinha um mandado de prisão em aberto. Houve falha também da pessoa que o contratou. Como é que vai contratar um cara sem documentos, apenas com um boletim de ocorrência? E se ele estava com um boletim de ocorrência da Polícia Civil, como não foi preso? Porque ele estava com um documento da Polícia Civil, assinado por um escrivão da polícia. Então, automaticamente, esse cara entrou dentro da delegacia. Como que ele saiu da delegacia andando? Então, teve um erro.
MidiaNews – Como tem sido sua rotina atualmente e o que o motiva a continuar?
Regivaldo Batista Cardoso – Saio para trabalhar. No mais, é dentro de casa e Igreja à noite. De vez em quando, saio e converso com alguns amigos, visito a minha sogra. Pelo fato de eu ser cristão, tenho que seguir. Para eu não continuar, teria que tirar a minha vida. E também não quero ser um peso vivo na vida da minha família, dos meus pais, dos amigos. Eu vou seguindo.

Quero brigar por Justiça e fazer valer que outras pessoas não passem pelo que a gente está passando
Agora, motivo mesmo… Quero brigar por Justiça e fazer valer que outras pessoas não passem pelo que a gente está passando. Então, essa, de repente, é uma coisa que me dá um pouquinho de gás.
Sei que é difícil levantar uma bandeira de segurança, porque o Estado não está nem aí para a gente. O Estado não dá segurança nenhuma. Em vez de diminuir, os casos estão aumentando. Hoje foi preso um médico em Canarana, abusador de crianças. As pessoas falam: “A criminalidade contra a mulher está diminuindo”. Não está nada! Está aumentando cada vez mais, porque a punição é branda, a Justiça é lenta, as leis são tranquilas, são fáceis para esses caras. Tinham que ser mais rígidas. Então, se uma coisa for me incentivar, vai ser isso: poder ajudar, correr atrás, fazer alguma coisa para melhorar essas leis. Sei que é difícil, depende do Senado, da Câmara, mas, pelo menos, bagunçar lá
MidiaNews – O senhor se pega pensando no futuro que vocês teriam juntos?
Regivaldo Batista Cardoso – Sempre. Tem muitas coisas que acontecem que, às vezes, eu deixo de fazer por causa disso. Ou penso: “Será que vale a pena fazer?” Coisas que queria que acontecessem com elas junto. Mas que graça tem se não tenho com quem compartilhar? Se quem eu gostaria de compartilhar não está mais. Por exemplo, parar de viajar. Poxa, teve que acontecer tudo isso para eu desgostar do caminhão…
MidiaNews – Era uma profissão na qual se sentia realizado?
Regivaldo Batista Cardoso – Demais. Sempre gostei de caminhão, desde pequeno. Desde os meus sete, oito anos fui apaixonado por caminhão. E, depois do acontecido, perdi o gosto. Ganhei um caminhão novo para trabalhar. Era a mesma coisa que nada. Porque não tinha elas. Eu falei para a Melissa: “O pai vai trabalhar com um caminhão novo agora”, e ela falava: “Ah, pai, quero viajar com o pai nesse caminhão”. Isso que é gostoso, te dá ânimo para trabalhar, ver um filho que gosta da profissão que o pai exerce, por mais que o pai fique longe. Elas sempre viajavam comigo. Era muito bom.
MidiaNews – Gostaria de deixar alguma mensagem para outras pessoas que enfrentam perdas semelhantes?
Regivaldo Batista Cardoso – Muita fé em Deus. É difícil? É. É doloroso? É. É uma coisa que nunca mais vai voltar, mas se apeguem em Cristo. Deus nos fortalece, nos capacita, nos dá ânimo para seguir em frente. A sua vida não acabou, está aí ainda. Por mais difícil que seja, continue vivendo. Tem horas que eu tenho vontade de desistir. Eu já pensei em tirar minha própria vida. Mas, ao mesmo tempo que penso isso, falo: “Não. Eu sou crente. Sou servo do Deus Altíssimo”. Vamos para frente, vivendo um dia de cada vez.
As pessoas falam: “Ah, mas Deus foi injusto contigo.” Não! Deus não foi injusto comigo. Jamais! Eu não culpo Deus por nada. Ele é o Ser Supremo, o dono da vida. Eu sei que elas estão com Cristo hoje. Sei que teriam uma vida brilhante se estivessem aqui. Mas hoje elas estão com Cristo. Eu tenho certeza que elas estão no Paraíso.
Então, para as pessoas que sofrem esse luto: tenham fé em Deus.
Veja a íntegra da entrevista: