Os cães de terapia são animais treinados para auxiliar pessoas com deficiências, transtornos e doenças mentais. Eles podem curar ou suavizar problemas a partir da sua simples presença ou em seu envolvimento em atividades que auxiliem esses pacientes.
É um motivador nos ganhos da terapia, você vê que os pacientes se sentem muito mais motivados, interessados e há um ganho maior nas terapias
A psicopedagoga e adestradora Cristiane Gambin faz parte de um projeto, o Comfort Dog, que conta com esses cães de terapia para desenvolver atividades em vários ambientes, como escolas, creches e Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
O seu cão de terapia Fred, um golden retriever de cinco anos, trabalha principalmente com crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista (TEA), depressão, ansiedade e crises de pânico, além de também colaborar em atividades de alfabetização e com dificuldades em atividades motoras.
De acordo com a especialista, ainda que haja pessoas que não se adaptam à presença do cão como parte da terapia, a grande maioria consegue desenvolver melhor suas necessidades com ele.
“Você vê nitidamente que eles fazem a diferença. É um motivador nos ganhos da terapia, você vê que os pacientes se sentem muito mais motivados, interessados e há um ganho maior nas terapias”, afirmou.
Atividades em ambientes escolares
Desde 2019 ela realiza um trabalho em uma escola particular de Cuiabá com crianças e adolescentes utilizando os cães Fred, Mia, Mel e Julie como auxílio. Conforme a psicopedagoga, a partir da pandemia de Covid-19 os cães foram essenciais para os estudantes.
“Quando a gente veio ao pós-pandemia, os nossos cães foram sensacionais. A gente usava muito os cães com o ensino médio. Porque daí, do nono, oitavo ano até o ensino médio, a gente teve muitas crianças com ansiedade, com crise de pânico, ansiedade por conta da pandemia, porque todo mundo ficou com aquele medo”, diz.
Diversos estudantes passavam o período de intervalo na sala com os cães desde essa época, o que se tornou um costume para os adolescentes.
“Eles [estudantes] vêm aqui na hora do intervalo. Eles ficam aqui sentados, às vezes, só ficam, dão uma choradinha, ficam abraçados [com os cães] e vão embora. Só têm aquele acolhimento. […] Só o fato de eles entrarem em contato com os cães faz a diferença”.
Além disso, ela conta com uma sala de recurso no ambiente escolar específica para as crianças com autismo e deficiência, realizando várias atividades. Há também práticas de costume entre cães e crianças que nunca tiveram um animal de estimação e podem ter como apoio emocional.
Victor Ostetti/MidiaNews

Cristiane com os cães Fred (com colete) e Mel, ambos golden retiever
“Nessa semana teve uma criança que a mãe quer que se adapte ao cão para ela poder comprar um para ter em casa. Então, como a criança ainda belisca o cão, ela quer que ele aprenda a ter o contato, pra depois ela comprar um”, explica.
Em conjunto com este colégio, Cristiane também leva atividades envolvendo cães a escolas públicas em um trabalho voluntário. Nestas visitas, ela faz atividades de alfabetização e entretenimento entre grupos de crianças e o Fred.
Professores dessas escolas têm observado melhora no aprendizado.
“A presença do cão auxilia nesse processo, porque quando você está motivado e você está mais tranquilo, mais feliz, vamos falar assim, você também tem um aprendizado melhor. E quando o cão entra na sala de aula, fica todo mundo louco, você vê que o humor muda”.
A profissional explica que os benefícios não são apenas com o toque no cachorro, mas a liberação hormonal de bem-estar pode se dar com a simples presença do animal na sala.
Além desses ambientes, as atividades voluntárias também são feitas com idosos em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) e creches.
Tipos de serviços prestados
Os cães também podem ser treinados para serviços civis e militares. Em relação ao suporte para a comunidade, os animais podem ser de assistência, conforto e de terapia.
Os cães de conforto são sugeridos por profissionais da saúde como uma forma de apoio emocional. Eles não precisam ser necessariamente treinados, apesar ser interessante ter o treinamento básico, afirma Cristiane.
Já o cão de terapia passa pelo treinamento básico, mas além dele precisa de diversos outros, de acordo as necessidades dos pacientes.
O mesmo ocorre com os cães de assistência e militares, que realizam este primeiro treinamento e depois partem para outros específicos para suas áreas.
Treinamento
Os cães de terapia são treinados para lidar com públicos e situações amplos, o que torna o treinamento com cenários bastante diversos. Além disso, eles nunca deixam de aprender novas habilidades, a fim de acompanhar as necessidades dos pacientes.
A primeira parte do treinamento é relacionada à obediência, com comandos básicos mais conhecidos como “senta”, “deita” e “rola”. Depois, são trabalhadas a socialização e a habituação. Elas fazem com que os cães se adaptem a tipos de pessoas e ambientes diferentes com facilidade.
“Pessoas de vários biotipos, várias vestimentas, de boné… Eles precisam conhecer tudo e não ter medo de nada”, esclarece.
Cristiane explica que os treinamentos específicos podem durar pouco mais de uma semana, antes de os cães estarem aptos a auxiliar.
Já o cão de assistência é treinado especificamente para um indivíduo. Ele pode auxiliar pessoas com doenças, deficiências e transtornos físicos e mentais.
Arquivo pessoal
Vitor Mickosz treinando cão do Exército
De acordo com Cristiane, eles mudam a vida das pessoas, pois podem possibilitar que elas vivam de uma forma que não poderiam sem essa assistência. Eles auxiliam, por exemplo, pessoas cegas, com diabetes, crises de pânico e pessoas cadeirantes.
“Às vezes, você conversa com as pessoas e [descobre que] elas nem saíam mais de casa. O cão dá essa liberdade de volta. É como se a pessoa voltasse a viver com a presença do cão. Ele muda realmente a vida da pessoa”, afirma.
Quanto aos cães militares, eles podem prestar serviços em ações de captura, resgate, e farejamento de drogas, explosivos e outros equipamentos, segundo o veterinário e adestrador Vitor Mickosz.
O profissional trabalha de forma voluntária no treinamento dos cães do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Exército e Polícia Penal de Mato Grosso. Ele explica que os animais podem tornar o trabalho dos militares melhor, desde que tenham porte físico e treinamento.
“Ele precisa estar saudável. E como garantir isso? Condicionamento físico. O cão não necessariamente precisa estar gordo, ele precisa estar forte. Eles têm necessidades de terem uma alimentação boa e balanceada, estar com as vacinas em dia, vermífugos em dia, é todo um acompanhamento veterinário”, explica.
“Para o cão estar apto para exercer uma função, ele passa pelo menos em média de um a dois anos treinando, isso do adestramento básico até o adestramento específico de acordo com o exemplar, de acordo com a função que ele vai exercer no mundo civil ou militar”, diz.