O jornalista e analista político Onofre Ribeiro avaliou que, neste momento, o STF (Supremo Tribunal Federal) é quem governa o país, se colocando acima dos outros poderes e criando o que chamou de “narrativa de golpe” para tirar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da disputa.
Não havia prova suficiente. O STF criou, muito antes da eleição do Lula, uma narrativa
Onofre diz que o Supremo sempre viu Bolsonaro como um problema, porque não fazia composições com os ministros da Corte. Além disso, segundo ele, não havia provas suficientes para a Primeira Turma da Corte ter declarado o ex-presidente réu.
“Não havia prova suficiente. O STF criou, muito antes da eleição do Lula, uma narrativa. A relação do Bolsonaro com o Supremo é tumultuada desde sempre. O STF atuou fortemente na eleição, que não elegeu o Bolsonaro e é dentro de um propósito”, disse ao MidiaNews.
“Com a declaração de Bolsonaro réu, ganhou muita força a questão da anistia. Aquelas mil e poucas pessoas presas, essa cabeleireira [Débora Rodrigues, que escreveu “perdeu, mané” em uma estátua], trouxeram ao Brasil uma energia nova, a energia da anistia. Então, o Bolsonaro será anistiado. Isso vai ser inevitável e mudará todo o aspecto da eleição”, acrescentou.
Na entrevista, o jornalista com meia década de atuação na imprensa mato-grossense falou se enxerga um enfraquecimento do bolsonarismo em Mato Grosso e sobre os desdobramentos na direita para as eleições de 2026 em Mato Grosso.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Recentemente, o STF tornou o ex-presidente Bolsonaro réu por supostamente organizar uma trama de golpe de Estado. Há provas suficientes para essa decisão?
Onofre Ribeiro – Não, não há prova suficiente. O STF criou, muito antes da eleição do Lula, uma narrativa. Se você se lembrar, o Supremo vivia em permanente conflito com Bolsonaro.
A relação do Bolsonaro com o Supremo é tumultuada desde sempre. Então, o STF, todo mundo sabe, atuou fortemente na eleição que não elegeu o Bolsonaro e é dentro de um propósito. O STF é o interlocutor da chamada Nova Ordem Mundial no Brasil, o chamado globalismo.
A eleição foi muito tumultuada e trouxe o Brasil para o centro da problemática política mundial. O Bolsonaro era um problema para eles, porque ele não fez composições com o STF. Não se iluda, o STF, neste momento, é quem governa o país.
Então, é preciso que se mantenha uma narrativa de golpe muito forte, mantenha o Bolsonaro fora, para que não haja concorrência contra o sistema. Então não há golpe e nem houve. O golpe é uma narrativa e narrativa é outra coisa.
MidiaNews – Como fica a direita com uma suposta condenação de Bolsonaro? Isso pode enfraquecer o bolsonarismo em Mato Grosso?
Onofre Ribeiro – Nós estamos falando de direita e esquerda em um mundo em que a inteligência artificial está entrando para transformar o planeta completamente. Na verdade, a sociedade está se movimentando na busca de um futuro que não passe por essa polarização.

É preciso que se mantenha uma narrativa de golpe muito forte, mantenha o Bolsonaro fora, para que não haja concorrência
A sociedade quer resultados, não quer política de esquerda ou direita. Então, uma parte da sociedade que é liberal está trabalhando dentro do discurso do liberalismo e a esquerda na parte do socialismo.
A colocação do Bolsonaro como réu tem dois aspectos. O primeiro é que coloca ele como vítima e no Brasil vítima dá resultado. E o segundo é que colocou o STF numa posição incômoda, acirrou muito a ideia da anistia.
MidiaNews – O que pensa sobre o projeto da anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro?
Onofre Ribeiro – A ideia da anistia já se falava, mas com a declaração de Bolsonaro réu, ganhou muita força. Aquelas mil e poucas pessoas presas, essa cabeleireira [Débora Rodrigues, que escreveu “perdeu, mané” em uma estátua], trouxeram ao Brasil uma energia nova, a energia da anistia. Então, se tiver um anistia, o Bolsonaro será anistiado.
Isso vai ser inevitável e mudará todo o aspecto da eleição. Você terá que ter candidatura muito forte na esquerda para bater com o Bolsonaro de frente, que só está dependendo da anistia.
Está muito claro que a anistia está ganhando força, vai passar e vai terminar com essa polarização, mudando completamente a cara da política do país.
MidiaNews – Mas essa decisão, de tornar Bolsonaro réu, enfraqueceria o bolsonarismo aqui no Estado na visão do senhor ou não?
Onofre Ribeiro – Nesse ambiente de mudanças, não se pode dizer nem que Bolsonaro ou Lula serão candidatos. O liberalismo vai buscar alguém e não quer a polarização. Aqui em Mato Grosso, o agronegócio é muito mais moderno do que se pensa.
Ele é conservador por causa da defesa da terra e o liberalismo defende valores como o direito à propriedade. Mato Grosso é um estado do agronegócio e da pecuária, então aqui vale muito a ideia do direito à propriedade, por isso tem essa posição mais bolsonarista, como o Centro-Oeste inteiro.
Mato Grosso sempre foi conservador, nunca foi de esquerda, mesmo no tempo do MDB muito forte. Então o estado continua sendo conservador.
MidiaNews – Então, acha que essa polarização não se mantém na próxima eleição?
Onofre Ribeiro – Ela vai morrer nessa eleição.

Está muito claro que a anistia está ganhando força, vai passar e vai terminar com essa polarização
MidiaNews – Acha que tem chance de o ex-presidente Bolsonaro ser preso?
Onofre Ribeiro – Não, não tem chance de ser preso, porque passou da hora. A narrativa de golpe vem desde o dia 8 de janeiro e, se você se lembrar, antes mesmo da eleição de 2022.
Ele tinha que ter sido preso no começo do governo, quando o governo Lula tinha força política para, junto com o STF, segurar uma onda pesada. Porque o homem teve 59 milhões de votos, enquanto Lula teve 60 milhões.
Você não pode prender um cara desses como você prende um sujeito qualquer. Agora passou o tempo, o STF está perdendo força muito rapidamente com esse julgamento do Bolsonaro.
Esse julgamento, junto com o da Débora Rodrigues, trouxe para o povo uma questão de que o STF vinha extrapolando, e todos os juristas estão dizendo isso. O Congresso não tem coragem de afirmar.
Hoje, prender o Bolsonaro, seria muito arriscado para a política, tanto para a direita como esquerda. Na direita, cria um mito imbatível e na esquerda cria uma reação popular, que o governo não quer, pois está muito desgastado para ter uma comoção com paralisações de caminhoneiros, empresas e greves.
O governo não quer isso, e a prisão do Bolsonaro levaria a isso. Com 59 milhões de votos contra 60 do outro, e com a avaliação negativa do governo Lula, eles não precisam de mais uma briga.
MidiaNews – E qual é a avaliação faz do governo Lula atualmente?
Onofre Ribeiro – Olha, é um governo errado, na hora errada e fazendo o errado. O governo do Lula teria sido muito bom antes de 1989, quando o socialismo levou aquela pancada, acabou a União Soviética e caiu o muro de Berlim. Mas ele veio anos depois e com teorias muito antigas do socialismo bruto.

É um governo errado, na hora errada e fazendo o errado. O governo do Lula teria sido muito bom antes de 1989
Quando o Lula chegou ao poder em 2003, ele chegou com aquelas ideias antigas. Foi obrigado a fazer uma composição com o Congresso, porque não tinha maioria e virou o mensalão.
A Dilma foi ‘impeachmada’, terminou o período de esquerda, mas ele conseguiu voltar agora pelo interesse do sistema e desse globalismo mundial. Não é mais possível que ideias de 40 anos atrás vigorem no mundo de hoje.
O governo Lula está muito mal por inflexibilidade, por não ter projeto, por não conhecer o mundo de hoje.
MidiaNews – E não há uma perspectiva a curto prazo de melhorar?
Onofre Ribeiro – Mas ele não tem mais tempo, só tem um ano e meio pela frente. Não dá tempo de se formular um governo que não formulou nos últimos anos.
Ele está tentando fazer o que a Dilma fez, sobreviver um dia de cada vez. Mas veja que coisa, exatamente no momento em que o STF julga Bolsonaro e o considera réu, Lula estava fora, no Japão.
Era para sair fora dessa crise, porque isso vai gerar uma crise lá na frente.
MidiaNews – O senhor tem acompanhado as movimentações políticas aqui no Estado para 2026? Acha que haverá uma união entre o grupo do governador Mauro Mendes e o PL de Bolsonaro?
Onofre Ribeiro – É inevitável. Porque o Mauro é sabidamente de direita, é liberal. Ele não vai coligar com o PT em momento nenhum e tem dito isso abertamente com críticas ao governo.
Vamos ter só uma candidatura forte na eleição do ano que vem para governador. Essa candidatura tem como lado “inspirador” o Mauro Mendes. Não vejo de outra forma.
Pode ser que apareçam outras candidaturas, por exemplo, a esquerda lance um candidato, mas é apenas para fazer alguma bancada tendo um cabeça de chapa. A grande coligação vai ser feita do governo atual com todo mundo que não for de esquerda.
MidiaNews – Então, acha que o PL não deve lançar, por exemplo, o senador Wellington Fagundes ao governo?
Onofre Ribeiro – Acho que não. É muito mais cômodo estar do lado do governo apoiando do que estar governando.

A grande coligação vai ser feita do governo atual com todo mundo que não for de esquerda
É claro que Wellington é um político e está em pleno mandato, vende essa teoria, mas não creio.
MidiaNews – Então, o candidato da direita deve ser mesmo o atual vice-governador, Otaviano Pivetta?
Onofre Ribeiro – É o perfil e o que o cenário mostra é que será o Pivetta. Agora, o candidato a vice pode ser um elemento de negociação, aí pode ser o Wellington ou outro alguém da mesma vertente, seja do PL, do MDB ou de quem for, menos de esquerda.
O vice vai ser um elemento de negociação, para o candidato ser alguém que interessa ao governo.
MidiaNews – O Lúdio Cabral teve um bom desempenho na Capital em 2024. Em 2022, Rosa Neide foi a candidata a deputada federal mais votada, mesmo não sendo eleita. Acha que a esquerda tem alguma chance de abocanhar algum cargo majoritário, Senado ou governo?
Onofre Ribeiro – Não, só vai fazer deputados federais e estaduais. Isso o PT fará, mas senador e governador jamais.
Essa eleição de prefeito em 2024 mostrou para a gente uma coisa muito interessante, quem conduziu essa eleição não foram os partidos, não foram os candidatos, foi o próprio eleitor. Tanto é que você via o Eduardo Botelho disparado na frente e olha o que virou.
Você via o Abilio com uma série de restrições e foi eleito. E o Lúdio teve a votação de oportunismo daquele momento. Não vejo ele para senador ou governador, nem tão pouco a Rosa Neide.
Porque o PT encolheu demais, a esquerda encolheu demais e o eleitor está assumindo o papel de dono da eleição. O Lúdio e a Rosa Neide terão votos, mas não relevância.
MidiaNews – E o senador e ministro da agricultura Carlos Fávaro (PSD) deve buscar a reeleição pela esquerda. Tem chance?
Onofre Ribeiro – Não tem chance. Ele carrega todo o desgaste do governo. Ele se elegeu lá atrás com o apoio do Bolsonaro, um apoio muito forte e o abandonou, por uma questão de política.
Ele deixou o grupo e foi para a esquerda, mas ele não tem força nenhuma no Ministério da Agricultura. Ele está ocupando espaço apenas e ficou muito queimado no eleitorado dele por ter ido para a esquerda.
Então, o Fávaro, se se candidatar, está riscadíssimo a não se eleger.