Entre os estúdios de TV e a tribuna da Assembleia, Walter Rabello construiu uma trajetória marcada pela linguagem direta e forte apelo popular. Pouco mais de 10 anos após sua morte, o ex-deputado estadual ainda é lembrado como um comunicador carismático e político populista.
Ele estava construindo e pela juventude dele achei que chegaria certamente a ser prefeito Cuiabá no futuro próximo. Mas infelizmente, Deus o chamou
Vítima de infarto, ele morreu no dia 9 de dezembro de 2014 aos 48 anos.
À época, Walter havia sido reeleito para o terceiro mandato consecutivo como deputado estadual. Na TV, ainda seguia apresentando programas na TV Gazeta, incluindo o “Cadeia Neles”.
Antes de virar apresentador na TV Gazeta (atual Vila Real), Rabello já havia atuado nas emissoras Cidade Verde (Band) e Rondon (SBT), ambas na Capital.
Em entrevista ao MidiaNews, o presidente do Grupo Gazeta de Comunicação, João Dorileo Leal, relembrou a época em que Walter comandava o programa policial de maior audiência no Estado.
Segundo o empresário, levar Walter para a emissora foi uma ideia dele, que já via o potencial de comunicador na concorrência.
“O Walter foi uma escolha minha. Ele trabalhava em outra emissora de televisão. E eu convidei e o contratei. Apesar de que já tinha trabalhado comigo na Rádio Gazeta, muitos anos antes, mas apenas depois foi para a TV”, afirma.
“Eu que levei o Walter para o ‘Cadeia Neles’ para substituir o Clóvis Roberto, que era um ícone, um cara excepcional que faleceu também”, diz, referindo-se ao apresentador que morreu em 2010, vítima de câncer de pulmão.
Antes mesmo de ser apresentador do “Cadeia Neles”, Walter já tinha carreira política. Em 2004, quando disputou o cargo de vereador por Cuiabá, recebeu 8.683 votos, estabelecendo um recorde de votação na Câmara que dura até hoje.
Em 2006, foi eleito deputado estadual com 70.646 votos, mas acabou cassado por infidelidade partidária. Em 2008 tentou ser prefeito de Cuiabá, mas não conseguiu. Seria novamente eleito deputado estadual em 2010 com 18.696 votos.
Dorileo atribui o sucesso popular de Walter ao seu “jeito único” de lidar com o povo. Algo que, para ele, o destacou entre os demais, atraindo admiradores.
“Não é atoa que ele sempre foi um cara campeão de votos como político. É exatamente consequência do que era. Um cara muito querido, um cara que para ele não era o dinheiro, era a vontade de servir. Porque o Walter teve oportunidades enormes, mas sempre optou por fazer comunicação popular”, relata.
Trajetória conturbada
Walter também era conhecido pelo estilo explosivo e populista. No “Cadeia Neles”, seu tom incisivo marcava as denúncias diretas contra criminosos e críticas às autoridades.
Reprodução/Gazeta
Walter Rabello apresentando o programa “Cadeia Neles”
Quando foi eleito deputado estadual em 2006, 2010 e 2014, seu estilo também lhe rendeu adversários dentro e fora da política.
Ele frequentemente usava o plenário como palco para acusações e discursos inflamados, o que levou a advertências e críticas por parte de colegas parlamentares e instituições ligadas à ética na política.
Além disso, foi acusado de utilizar práticas assistencialistas para conquistar eleitores, como distribuição de cestas básicas e medicamentos — ações que, embora populares, levantaram questionamentos sobre uso indevido da máquina pública e favorecimento político.
Ele chegou a ser investigado em processos judiciais, mas faleceu antes que ações contra ele fossem concluídas.
“Veia popular”
Apesar das inúmeras controvérsias, a principal marca deixada pelo político e apresentador foi seu jeito direto, por vezes exagerado, que poderia até causar incômodo em setores mais tradicionais, segundo Dorileo.
Para o empresário, era justamente a autenticidade que conquistava o respeito e a admiração de grande parte da população, especialmente das camadas mais populares.
“Ele vivia nos eventos do Viva Seu Bairro, vivia nos eventos de festas de santo, festas comunitárias. Enfim, era um cara que tinha tudo da veia popular mesmo e tinha um carinho muito grande com as pessoas, era muito atencioso”, lembra o empresário.
“Eu via isso na porta da Gazeta, era uma eternidade para sair da Gazeta com o povo lá fora, querendo conversar com ele, querendo pegar nele. Enfim, o Walter foi diferente, um fenômeno muito grande”, acrescenta.
Sonho
Segundo Dorileo, a morte precoce do amigo o impediu de realizar um de seus sonhos, que era o de se tornar prefeito de Cuiabá, ele que já tinha tentado em 2008.

Todo mundo respeitava, ele era grande amigo de todas nós, não tinha segredo, contava tudo para o meu pai
“O Walter estava construindo e, pela juventude dele, achei que chegaria certamente a ser prefeito Cuiabá no futuro próximo. Mas, infelizmente, Deus o chamou antes e interrompeu esse sonho. Mas senti que esse era o grande sonho dele. E como era um cara de comunicação, popular, acho que ele ia conseguir o objetivo”, afirma.
Família
A filha Pamella Rabello, de 33 anos, lembra que o apresentador, em casa, era o “paizão”.
Com quatro filhas, ela descreve Walter como, literalmente, o homem da casa. E mesmo com toda vida atarefada, dividido entre a política e a TV, fazia questão de estar presente, diz ela.
“Todo mundo respeitava, ele era grande amigo de todas nós, não tinha segredo, contava tudo para o meu pai”, recorda.
“Tem 10 anos que ele faleceu, em dezembro faz 11 anos, mas para a gente é como se tivesse sido ontem. O tempo não passa, a gente sente falta”, acrescenta.
Ela lembra pelas histórias da avó que a batalha do pai começou quando ele ainda era criança, vendendo suquinho na rua. Para Pamella, essas raízes, forjadas pelo trabalho foram as responsáveis por moldar seu pai.
“Vejo outros jornalistas, que são bons, mas como ele era, da forma que ele era, nunca vi igual. Era dele, acho que tinha um dom. Na política também”, diz.
“Acho que perder um pai é igual para todo mundo. Ele era uma base para todo mundo, o homem da casa, provedor. Foi um baque. A minha vida mudou muito, a minha realidade mudou muito. […] Eu senti muito, porque ligava para ele todos os dias, gente conversava todos os dias. Perdi um amigo”.