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Indígena escreve livro de expedição do avô com irmãos Villas-Boas

Quando criança, Yamalui Kuikuro ouvia, antes de dormir, horas de recordações contadas pelo avô, Nahũ, sobre seu trabalho com os irmãos Cláudio e Orlando Villas-Boas durante uma expedição realizada nos anos 1950, que deu origem ao Parque Xingu. Agora adulto, ele transformou as histórias do avô em uma obra literária que tem se destacado no mercado nacional.

 

Esperei meu avô aparecer, o nome do meu avô aparecer, mas não apareceu nada. Aí pensei: eu mesmo vou escrever a história do vovô

Com cerca de 10 anos de produção, a obra surgiu após Yamalui ver as histórias dos irmãos Villas-Boas saírem da aldeia localizada no norte de Mato Grosso e se transformarem em epopeias literárias e obras cinematográficas, como é o caso do filme “Xingu – A Expedição”, lançado em 2012.

 

Contudo, à medida que mais adaptações eram criadas, mais Yamalui percebia a invisibilização do trabalho do líder Nahũ Kuikuro, responsável pela consolidação da expedição por meio de traduções e do trabalho diplomático que estabeleceu entre os indígenas do Xingu e os sertanistas visitantes.  

 

“No filme, meu avô não aparece. Mas ele é o principal personagem, ele é quem vai receber os Villas-Boas, ninguém fala disso. Ninguém fala dele. Esperei meu avô aparecer, o nome do meu avô aparecer, mas não apareceu nada. Aí pensei: eu mesmo vou escrever a história do vovô”, afirmou Yamalui ao MidiaNews.

 

Foi assim que nasceu o livro “O Dono das Palavras: A História do Meu Avô”, lançado em 2024 pela editora Todavia.

 

A obra ganhou destaque por contar, sob uma nova perspectiva, a história do líder Nahũ Kuikuro e do contato dos não indígenas com os povos originários do Alto Xingu.

 

O início da liderança 

Reprodução

Nahu Kuikuro e Orlando Villas Bôas

Nahu Kuikuro e Orlando Villas Bôas

“Meu avô era da cultura, das festas, dos cantos. Aprendi com ele os conhecimentos tradicionais. Agora, conto a vida dele”, diz um trecho da obra escrita em kuikuro e em português.

 

Na obra, Yamalui aborda a infância e o período de liderança do avô. Segundo ele, a infância de Nahũ não foi fácil. Órfão de pai, ele saiu da aldeia Kuikuro ainda criança e na companhia da mãe e dos tios, foi morar na aldeia Bakairi, localizada em Paranatinga. Neste período, Nahũ teve o primeiro contato com o português e passou a desenvolver o idioma.

 

Anos depois, a fluência em português fez Nahũ romper com a lógica de escolha de caciques por meio da hereditariedade, sendo nominado líder dos Kuikuro ao demonstrar sua boa comunicação e capacidade de liderança.

 

Segundo o neto, esse espirto de liderança começou cedo. Ainda jovem, Nahũ acompanhou o antropólogo italiano Vincenzo M. Petrullo em passeios pela região para a publicação de um ensaio sobre os indígenas de Mato Grosso. 

 

Mas este não foi o único pesquisador com quem Nahũ teve contato. Anos depois, a comitiva da expedição de Nilo Veloso desembarcou no Estado e ele foi convidado a acompanhá-los pela região do Xingu. 

 

“O Nilo Veloso chegou e ele já falava português. O Nilo foi quem indicou ele para ser representante do Xingu e foi ali que ele atuou. Depois, vieram os Villas-Boas, mas ele já estava atuando. Começaram a indicá-lo como representante do Xingu e ele se tornou cacique do Xingu”, afirmou Yamalui.

 

A partir desse momento, Nahũ passou a atuar ao lado dos irmãos Villas-Boas durante suas expedições na região norte de Mato Grosso. O trabalho desenvolvido por Nahũ em parceria com os sertanistas garantiu a preservação e a luta dos povos originários para a demarcação do território Xingu.

 

“A luta dele foi muito importante para nós. Lutou pela demarcação. Ele foi intermediador do Xingu, foi protagonista. Abraçou a nossa causa, defendeu nosso direito como povos indígenas do Xingu, na década de 40 até 2000”

 

Produção do livro

 

Divulgação/ Todavia

O dono das palavras

Livro publicado pela editora Todavia

Apesar do extenso trabalho diplomático que exerceu entre autoridades indígenas e não indígenas, a história de Nahũ é pouco associada à fundação do Parque Indígena do Xingu.

 

Esse fato levou Yamalui a realizar um trabalho de apuração para reconstruir a história do avô e garantir o protagonismo indígena nesse processo.

 

Para isso, Yamalui realizou entrevistas com familiares, amigos e parentes de aldeias vizinhas. O trabalho o auxiliou a preencher lacunas vazias da história e passá-las para o papel. Um processo que demandou tempo e, principalmente, recursos financeiros.

 

“Essa história do vovô me emocionou muito. Chorei durante a minha pesquisa. Porque senti a dificuldade que ele enfrentava na vida dele. E, mesmo assim, ele conseguia. Isso me deixou muito triste”, declarou.

 

Após a conclusão do livro, Yamalui iniciou um novo processo para tentar finalizar a publicação da obra. Ele chegou a entrar em uma fila de possível publicação na Editora Todavia, mas se surpreendeu ao receber um telefonema informando que seu livro sairia da fila para ir direto para a publicação imediata.

 

O livro ganhou destaque na editora e foi incluído na lista da revista literária Quatro Cinco Um, como uma das melhores obras de memória do ano de 2024. Além do destaque no mercado literario nancional, o livro adquiriu um novo peso simbólico ao representar a preservação da memória da família Kuikuro.

 

“Minha família ficou muito contente, porque já sonhávamos em ter o livro do vovô. Ele foi muito importante para nós. É por isso que o sonho era publicar livros dele. E a comunidade gostou”, disse.

 

“Muitos professores da aldeia me parabenizaram e falaram que agora temos uma história boa. Esse é o documento forte para nós. É o documento que registra nossa história”, completou.

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