Por Cleiton Túlio | Portal Mato Grosso
Nesta sexta-feira (04.04), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa de uma visita ao Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso. A programação, ultrapassa o simbolismo das fotos oficiais ao lado do respeitado cacique Raoni Metuktire, tem caráter decisivo para expor demandas urgentes dos povos originários.
Durante o encontro, as comunidades indígenas, por meio da Rede Xingu +, uma articulação composta por 48 organizações indígenas e ribeirinhas e por cinco organizações da sociedade civil da bacia do rio Xingu — prepararam uma carta que será formalmente entregue ao presidente. No documento, os indígenas reconheceram os avanços no combate ao desmatamento, destacando uma queda de 46% nos índices de desmatamento na bacia do rio Xingu, registrada entre agosto de 2023 e julho de 2024, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Contudo, a carta ressalta problemas alarmantes que persistem e se intensificam na região, como a extração ilegal de madeira e o aumento das queimadas. Segundo a Rede Xingu+, o roubo de madeira é promovido por organizações criminosas que têm aliciado indígenas e ribeirinhos, aproveitando a vulnerabilidade e os pontos frágeis na fiscalização.
Crescente ameaça na extração de madeira e incêndios florestais
O documento aponta que estados como Pará e Mato Grosso são fortemente afetados pela atividade ilegal de extração madeireira. No Pará, de agosto de 2022 a julho de 2023, foram detectados 38.552 hectares de exploração madeireira, dos quais 46% ocorreram sem a devida autorização. Em Mato Grosso, a situação é ainda mais crítica: o estado lidera em extensão a área explorada ilegalmente, atingindo cerca de 200 mil hectares, com municípios na bacia do Xingu, como União do Sul, Nova Ubiratã, Marcelândia e Feliz Natal, figurando entre os mais impactados.
Além da extração ilegal de madeira, as queimadas emergem como um grave problema ambiental. Dados do Mapbiomas indicam que em 2024 as áreas queimadas em regiões protegidas alcançaram aproximadamente 2,798 milhões de hectares – cerca de 5,5% da área da bacia – com 71% desse total ocorrendo em terras indígenas. A intensificação dos incêndios, que variou de 353% de aumento na bacia como um todo a números ainda mais expressivos em territórios específicos, como 1.886% na Terra Indígena Kayapó, intensifica a urgência de medidas eficazes.
Outras demandas e critérios de fiscalização
Na carta, além do enfrentamento à extração ilegal e às queimadas, os indígenas também serão cobrados por Lula sobre outras questões ambientais. Entre as demandas estão a necessidade de revisar o sistema de pulverização intensiva de agrotóxicos nas proximidades das áreas protegidas, o descumprimento de condicionantes relacionadas à operação da hidrelétrica de Belo Monte e as implicações do plano de construção da Ferrogrão, projeto de ferrovia que visa ligar Mato Grosso ao Pará.
Lideranças indígenas e especialistas, como a antropóloga Luísa Molina, do Instituto Socioambiental (ISA), enfatizam que, embora os esforços do governo para combater o desmatamento mereçam reconhecimento, ainda existem lacunas críticas no controle da extração ilegal de madeira. “Estamos lidando com organizações criminosas que aliciam indígenas e ribeirinhos, traficam armas e impedem o trabalho das brigadas de incêndio. É imperativo que os órgãos ambientais recebam os reforços necessários, e a Polícia Federal seja implacável na responsabilização dos infratores”, alerta Molina.
O papel das organizações e a promessa de compromisso
As comunidades indígenas reduzem o encontro a um momento crucial de diálogo e pressão por medidas concretas. “Seguimos confiantes no compromisso de seu governo com os direitos dos povos indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais, e com a proteção da Amazônia. Estamos juntos na luta por um futuro possível para o Brasil e o mundo”, concluem os representantes na carta, reafirmando seu anseio por uma política ambiental robusta e efetiva.
Na quarta-feira (02.04), a atriz e ativista Angelina Jolie, visitou a aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto-Jarina, e manteve diálogo com o cacique Raoni Metuktire, reforçando o interesse internacional na defesa da região.
Em um cenário repleto de contradições entre avanços e retrocessos, a mobilização dos povos indígenas e das organizações civis evidencia a urgência de uma agenda ambiental que proteja não apenas a floresta, mas também as pessoas que dela dependem para sobreviver e manter suas tradições milenares.