A trágica morte de Cleia Lina dos Reis, de 44 anos, atropelada e esmagada por um caminhão, na noite de quarta-feira (9), enquanto pedia dinheiro em um sinaleiro no bairro Porto, em Cuiabá, gerou reação nas redes sociais.
Sempre que passava por ali, eu torcia para o sinal fechar, só pra ter a chance de vê-la
Cleia estava em situação de rua e era conhecida na região como “Pega-Pega”. Imagens do circuito de câmeras do programa de monitoramento Vigia Mais MT registraram o momento exato do acidente.
A imagem mostrou Cleia entre os carros, conversando com motoristas, enquanto aguardavam o sinal abrir.
Em determinado momento, ela vai para a calçada, quando um caminhão estaciona e também espera o sinal. Assim que o semáforo abre, o motorista segue e, ao mesmo tempo, Cleia também tenta atravessar a rua, mas entra no ponto cego do caminhão e é atropelada.
O caso viralizou nas redes e a população, em sua grande maioria, lamentou a morte da pedinte, que era conhecida.
Flávio Arlindo disse conhecer Cleia por meio de um projeto social do qual participa no bairro, levando a palavra de Deus.
“Ela era bem conversadeira e feliz. Nesta última vez que estávamos juntos, dei a oportunidade para as pessoas agradecerem a Deus e ela foi a única a agradecer”, disse.
Glaucio Assis disse ter conversado com Cleia algumas vezes e lamentou a forma trágica com que ela se foi.
“Já era figura carimbada no Porto! Cheguei a conversar com ela algumas vezes. Era tranquila, mas estava no vício. Foi oferecida ajuda, mas a droga fala mais alto. Triste saber que ela se foi assim”, disse.
Alexandre Lino contou que todos os dias “fazia um coração pra ela” e, às vezes, até a ajudava com algum dinheiro.
“Dentro do carro, ela me mandava beijos e assustava os passageiros do meu lado — aparecia do nada no vidro, com aquele jeitinho único que só a Cleia tinha, e a gente caía na risada”, afirmou.
“Sempre que passava por ali, torcia para o sinal fechar, só para ter a chance de vê-la. A Cleia era cheia de vida, sempre sorridente, espalhava alegria e ainda ajudava quem estava ao redor. Hoje, o sinal abriu, mas meu coração fechou de saudade”, completou.
Apesar das mensagens de carinho, teve quem afirmou que ela era agressiva. “Lamentável ter acontecido isso. Mas o motorista do caminhão não teve culpa. Ela era uma boa pessoa, sim, mas tinha picos de agressividade e não era santa também”, afirmou Rhaniel Victor.
As pessoas descreveram o acidente como tragédia. “Ela entrou no ponto cego do motorista”, afirmou Kamila Ramos diante das imagens exibidas na mídia.
“Fatalidade. Vivia batendo no meu vidro pedindo dinheiro. A droga destrói”, disse Allan Cristian.
Vitória Oliveira afirmou que era de se prever que isso fosse acontecer com Cleia ou com qualquer outra pessoa em situação de rua da região.
“Passo lá todos os dias para ir para a faculdade à noite. Essas pessoas em situação de rua, muitas vezes, estão drogadas, igual zumbi, e ficam andando no meio dos carros. É muito perigoso. Quem anda de carro ou moto e já conhece ali passa até mais devagar”, afirmou.
Em nota, a Defensoria Pública lamentou a morte dela e de Ney Muller Alves Pereira, de 42 anos, morador de rua morto a tiros em frente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá
“Mais do que lamentar, a Defensoria reafirma seu compromisso histórico e permanente com a defesa dos direitos dessa população, que enfrenta diariamente a invisibilidade social, o preconceito e a negligência institucional”, escreveu.
“A Defensoria Pública atuará nos casos para assegurar que os processos sejam conduzidos com seriedade, transparência e respeito à dignidade, mesmo que não represente diretamente nenhuma das partes”, acrescentou.
Defesa de motorista
Mais à frente do local do acidente, o motorista foi abordado e submetido ao teste do etilômetro, que comprovou que ele não estava alcoolizado.
Muitas pessoas também se solidarizaram com o motorista. “Espero que o motorista fique bem psicologicamente, pois ele não teve culpa. Ele não viu. Ela entrou na frente do ponto cego da carreta!”, disse Dayara.
“Que tristeza! Infelizmente, falta uma câmera frontal nesses veículos altos. Salvaria muitas vidas e iria prevenir danos também”, afirmou Gustavo.
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