Quando conheci esta fantástica irmandade com intuito de encaminhar pacientes alcoólicos, que, naquele determinado município, não mais havia recurso clínico, lembrei-me de uma palestra durante o tempo da faculdade sobre a temática de álcool e outras drogas. Tive um insight para pedir ajuda e, se possível, abrir um grupo. Iniciou-se, assim, esse contato, seguido de informações sobre como funciona essa irmandade e o que fazem os seus membros.
Com isso, vim a saber e me encantei com uma forma de ver o alcoolismo com práticas de enfrentamento diante dos sofrimentos, mas principalmente sem rótulos, personalidades, exclusões; ao contrário, o A. A. pratica o acolhimento, respeito às singularidades e características individuais, busca de troca de experiências, vivência de espiritualidade e preocupação mútua em manter a unidade.
Sabemos bem os imperativos do mundo em que vivemos hoje, sobressaindo-se conquistas individuais, status, sucesso e prosperidade financeira e profissional, este é o perfil da humanidade que de uma forma camuflada ou explícita move os desejos egocêntricos. Com isso, atropelam-se os valores de convivência harmoniosa com a familiar, e a sociedade em geral.
Já em Alcoólicos Anônimos vejo uma seta para “esperançar”, pois o que muitas pessoas desabonam, excluem, rejeitam, prejulgam, nesta irmandade fazem questão de “estender as mãos para ajudar”, se fazem irmãos, aceitam o ser humano que sofre e não condenam seus erros, oferecem uma nova proposta de vida, sem uso de substâncias, mas motivando-os à responsabilidade, honestidade, humildade, espiritualidade e acima de tudo uma “paz interior”.
Quanto mais se conhece da programação de vida de Alcoólicos Anônimos, mais se entende que a irmandade recomenda alguns princípios fundamentais
A cada dia tenho certeza da importância de Alcoólicos Anônimos na recuperação da doença do alcoolismo, em cujos princípios é sugerido que “O único requisito para ser membro de A.A. é o desejo de parar de beber” (Terceira Tradição). Além de um valioso propósito enquanto irmandade: “Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudarmos outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade”.
Na realidade é impossível descrever Alcoólicos Anônimos em palavras, dada a grande riqueza que é a de oportunizar-se em conhecer pessoalmente um grupo, experimentar um ambiente que irradia espiritualidade, e ressignificar o medo de viver em sofrimento para um encontro consigo mesmo e suas possibilidades no mundo.
Sabemos que várias pessoas chegam diariamente aos grupos, cada qual trazendo diversas demandas (sua ou dos outros) e necessidades, ou seja, situações críticas que estão gerando transtornos financeiros, relacionais, espirituais, sociais, problemas com a justiça e outros. Contudo, observa-se que existe algo que incide, que é sutil e silencioso, e que gera uma grande pergunta subjetiva naqueles que se deparam consigo mesmos “será que este lugar é para mim? Ou “Não tenho mesmo controle em beber?” Ou ainda se “Consigo sozinho (a) parar de usar? ”.
O que realmente move a irmandade de Alcoólicos Anônimos? Durante 19 anos vivencio esta magnifica experiência de estar nesta irmandade e vejo o quanto é imensurável e significante sentir uma energia espiritual, uma “força” que nos faz continuar e sentirmo-nos chamados. Além da certeza de que A.A. é um elo de vida ou morte para o alcoólico na ativa ou para quem busca a recuperação a cada vinte quatro horas.
Quanto mais se conhece da programação de vida de Alcoólicos Anônimos, mais se entende que a irmandade recomenda alguns princípios fundamentais e essenciais que rompem os paradigmas do mundo a sua volta, entre eles a humildade, serenidade, unidade, serviço, autocuidado, aprender praticando, plano de vida (recuperação) em vinte quatro horas, responsabilidade consigo e levar informações aos outros que pedem ajuda, como única forma de sobrevivência na luta contra as possíveis recaídas.
Além de amor vital pela irmandade, sendo ela a grande luz que vem salvando vidas e transformando famílias e a sociedade a cada dia.
Luiz Antônio Vieira é psicólogo clínico e amigo de A.A.