Passar lápis de olho na linha d’água, ou seja, na região úmida e sensível que fica entre as pálpebras e o globo ocular, é um truques mais clássicos quando o assunto é maquiagem. No entanto, de tempos em tempos, vídeos virais pipocam nas redes sociais reacendendo o alerta de que a prática merece cuidados especiais.
À CNN, o oftalmologista Tiago César Pereira Ferreira, explica que o principal erro na aplicação está justamente em utilizar o cosmético na margem da pálpebra interna, área onde se localizam as glândulas de Meibômio, responsáveis pela secreção lípica que compõe a camada externa do filme lacrimal.
“Essa prática interfere mecanicamente no funcionamento dessas glândulas, podendo causar obstruções e comprometimento da produção da camada lipídica da lágrima, essencial para a sua estabilidade e para a prevenção da evaporação. Ao aplicar cosméticos tão próximos da superfície ocular, há maior risco de contaminação e de contato direto de partículas com a conjuntiva e a córnea”, conta.
Além disso, o especialista comenta que o uso diário do lápis também não é recomendado por conta do impacto negativo que pode exercer sobre a saúde ocular. Segundo ele, o contato constante de substâncias cosméticas com a linha d’água pode causar instabilidade do filme lacrimal, predispor à inflamação da margem palpebral e provocar sintomas de olho seco.
“A presença de pigmentos e conservantes pode desencadear reações alérgicas ou tóxicas, além de favorecer o acúmulo de resíduos sobre a superfície ocular, interferindo na lubrificação natural dos olhos. Em casos crônicos, há ainda risco de blefarite e agravamento da disfunção das glândulas de Meibômio”, acrescenta.
Olho seco e outros riscos na aplicação do lápis na linha d’água
Tiago também detalha que, entre os problemas oftalmológicos mais comuns ocasionados pela prática, o destaque fica pela disfunção das glândulas de Meibômio, que compromete a estabilidade da lágrima e favorece o desenvolvimento da síndrome do olho seco evaporativo. “Também são frequentes quadros de blefarite, conjuntivite irritativa ou alérgica, além da obstrução dos ductos glandulares, o que pode levar à formação de hordéolos e calázios”.
“Já em usuários de lentes de contato, os resíduos do cosmético podem aderir à lente, causar turvação visual, desconforto e até predispor à ceratite infecciosa, especialmente quando associados à higiene inadequada”, diz.
Para evitar os efeitos nocivos da aplicação, é recomendável restringir o uso desse tipo de maquiagem a ocasiões pontuais, evitando o hábito diário. “A adoção de uma rotina de higiene palpebral adequada, com o uso de espumas ou lenços específicos, contribui para a manutenção da saúde das glândulas da margem palpebral”, garante.
“O uso de colírios lubrificantes pode ser indicado para promover maior conforto ocular, sempre sob orientação profissional. Além disso, deve-se realizar a troca periódica dos produtos cosméticos e manter acompanhamento oftalmológico regular, especialmente se houver sintomas como vermelhidão, ardência, lacrimejamento ou sensação de corpo estranho”, adiciona.
Atente-se aos cuidados necessários
Para quem não abre mão de tendência, é fundamental adotar cuidados rigorosos para minimizar os riscos. Entre eles:
- Deve-se priorizar produtos oftalmologicamente testados, preferencialmente hipoalergênicos, evitando fórmulas com fragrâncias ou excesso de ceras;
- É importante não compartilhar o lápis com outras pessoas e realizar higienização adequada antes e após o uso;
- A maquiagem deve ser completamente removida no final do dia com demaquilantes específicos para a região dos olhos, e seu uso deve ser evitado em situações de inflamação ocular, alergias ou doenças palpebrais ativas;
- A orientação periódica de um oftalmologista também é recomendada para acompanhar a saúde da superfície ocular nesses casos.
Síndrome do olho seco pode ser incapacitante, alerta oftalmologista